19 de mai. de 2011

LEMBRAM? Almanaque Fontoura





As crianças da minha geração, adoravam passar na farmácia mais próxima de casa para pegar um exemplar dos Almanaques de Farmácia. E com ele a gente ficava com muita vontade de tomar Biotônico Fontoura – que era composto de sulfato ferroso, ácido fosfórico e outras “coisas”.







Já não tínhamos esse prazer quando um adulto malvado, mal humorado, mal amado, malfadado, inventava que precisávamos tomar Emulsão Scott – um líquido mal cheiroso, preparado com óleo de fígado de bacalhau, que nos tornaria, no futuro, fortes e saudáveis.

Para você que não sabe do que eu estou falando, explico: Almanaque era um livreto publicado em formato mais ou menos 13x18, onde o texto e as ilustrações eram impressas em papel popular que era distribuído (me parece que mensalmente) nas farmácias brasileiras. Ele continha piadas, calendário, fases da lua, propagandas, dicas de saúde, receitas culinárias etc...

Lembro-me das capas que sempre tinha uma ilustração colorida com um espaço reservado onde o dono da farmácia colocava o nome e o endereço do seu estabelecimento comercial.

Jeca Tatuzinho de Monteiro Lobato



JECA TATU era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia, e de vários filhinhos pálidos e tristes. Não tinha fôlego para nada, não pagava a pena plantar, pescar, remendar roupa... Valia só beber pinga. Assim, ele é taxado de preguiçoso.



- Por que você bebe Jeca? diziam-lhe.
- Bebo para esquecer.
- Esquecer o quê?
- Esquecer as desgraças da vida.
E os passantes murmuravam:
- Além de vadio, bêbado...

Assim o Jeca levava a vida...

Jeca possuía ainda um cachorro, o Brinquinho, magro e sarnento, mas bom companheiro e leal amigo. Brinquinho vivia cheio de bernes no lombo e muito sofria com isso. Pois, apesar dos ganidos do cachorro. Jeca não se lembrava de lhe tirar bernes. Por quê? Desânimo, preguiça...
As pessoas, que viam aquilo, franziam o nariz.
- Que criatura imprestável! Não serve nem para tirar berne de cachorro...

Certo dia um médico, fugindo da chuva, foi pedir abrigo na casa do Jeca e se assustou com tamanha miséria e diz:

- Amigo Jeca, o que você tem é doença.



- Pode ser. Sinto uma canseira sem fim, e dor de cabeça, e uma pontada aqui no peito, que responde na cacunda.



- Isso mesmo. Você sofre de ancilostomíase.
- Anci...o quê?
- Sofre de amarelão, entende? Uma doença que muitos confundem com a maleita.
- Essa tal maleita não é sezão?
- Isso mesmo. Maleita, sezão, febre palustre ou febre intermitente: tudo a mesma coisa.



Dessa forma, o doutor receitou MALEITOSAN FONTOURA, ANKILOSTOMINA FONTOURA e BIOTÕNICO FONTOURA. Mandou o Jeca comprar umas botas e nunca mais andar descalço e largar de tomar pinga.

Para que o Jeca acreditasse o médico colocou uma lente nos seus pés descalços e ele viu uma “bicharada”. O pobre homem arregalou os olhos, assombrado.

- Nunca mais! Daqui por diante dona Ciência está dizendo, Jeca está jurando em cima! Tesconjuro! E pinga, então, nem pra remédio!...

Jeca ficou cismando. Não acreditava muito nas palavras da Ciência, mas por fim resolveu comprar os remédios, e também um par de botinas ringideiras.

Desse dia em diante: Jeca de medroso virou valente. Antes carregava alguns gravetos, passou a carregar grandes feixes de madeira, colocou botinas até nos galos, galinhas, patos e porcos.

Sua fazenda se desenvolveu tanto que ele se transformou em um homem rico e sua fazenda passou a ser denominada – Fazenda Biotônico – e tornou-se famosa no País inteiro. Tudo ali era por meio do rádio e da eletricidade. Jeca, de dentro do seu escritório, tocava num botão, e o cocho do chiqueiro se enchia automaticamente de rações muito bem dosadas. Tocava noutro botão, e um repuxo de milho atraía todo o galinhame!... Suas roças eram ligadas por telefone. Da cadeira de balanço, na varanda, ele dava ordens aos feitores, lá de longe.

E seus filhos e esposa nem pareciam os mesmos de antigamente. E o curar gente da roça passou Jeca toda a sua vida. Quando morreu, aos 89 anos, não teve estátua, nem grandes elogios nos jornais. Mas ninguém ainda morreu de consciência mais tranqüila. Havia cumprido o seu dever até o fim.

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