16 de fev. de 2013

Carolina a Marabá em balsa de buriti celebrará 100 anos

Há mais relação entre Marabá e Carolina-MA do que imagina nosso vão conhecimento do século XXI. No início da colonização de nossa região, as pessoas utilizavam muito o transporte fluvial, dentre eles existia uma embarcação incomum, que era a balsa de buriti. Famílias inteiras partiam de Carolina com seus pertences, galinhas, cães, porcos e desciam ao sabor das águas do Tocantins, impulsionados e direcionados apenas por algumas varas até atingir o destino principal, que era Marabá.

O trajeto durava em média 20 dias. Assim, muitas famílias chegaram a Marabá e aqui se estabeleceram. Alguns pracistas (pessoas que viajavam de uma cidade a outra para vender mercadorias) enchiam as balsas de produtos industrializados, além de porcos, galinhas e outros mantimentos e traziam para o mercado de Marabá, onde corria bastante dinheiro advindo dos castanhais e garimpos de diamantes.

Lamentavelmente, como há pouca documentação das balsas de buriti e nenhuma fotografia, a história ficou quase esquecida no tempo. Um dos poucos registros é um desenho a nanquim de Pedro Morbach intitulado “Balsa de Buriti”, desenhado em 1987.

A Fundação Casa da Cultura vai realizar uma expedição para refazer esse trajeto entre Carolina e Marabá em uma balsa de buriti, como era feito até a década de 1970.
Segundo o presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá, biólogo Noé von Atzingen, os objetivos principais do projeto Balsa de Buriti são preservar a memória regional, despertar interesse pela história da região, valorizar esses heróis barqueiros que tanto fizeram por nossa região, documentar através de vídeos, fotografias e todos os meios de comunicação locais, regionais e nacionais, o percurso do projeto.

Segundo João da Cruz, antigo barqueiro de Marabá, para se construir uma balsa de buriti de 25 metros são necessários 2.000 talos de buriti. Ela pode transportar até 15 pessoas, além de instrumentos de cozinha, materiais pessoais e alimentos. Quatro pessoas são necessárias para conduzir a balsa com vogas e seriam necessários 20 dias de viagem de Carolina a Marabá. O melhor período para descer o rio é de janeiro a março.
Noé explica que apesar da existência da Hidrelétrica de Estreito, a equipe vai construir a balsa em Carolina, descer até a barragem, fazer o transbordo e seguir a viagem até Marabá.

A data de início da viagem ainda está em discussão, mas será anunciada nos próximos dias. Na balsa, estarão quatro barqueiros, um ajudante e outras dez pessoas, sendo três servidores da Fundação Casa da Cultura de Marabá, um historiador, dois jornalistas, 2 fotógrafos e dois representantes de TV.
Duas embarcações vão acompanhar a expedição, sendo uma lancha voadeira e um barco a motor com cozinha, que darão suporte em caso de emergência. A expedição vai passar pelas cidades Carolina, Babaçulândia-MA, Aguiarnópolis-TO, Estreito-MA, Tocantinópolis, Porto Franco, Itaguatins, Imperatriz, Praia Norte-TO, Sampaio-TO, São Sebastião-TO, São João do Araguaia-PA e Marabá.

Noé explica que o custo total da expedição está orçado em R$ 17.300,00 e ele clama por patrocínio para poder executá-la. A balsa já foi encomendada e está sendo construída por pessoas experientes de Carolina. “Vamos atrás de empresários locais que possam nos ajudar a refazer esse trajeto histórico para nossa cidade. A intenção é chegar a Marabá o mais próximo possível do dia 5 de abril”, observa Noé.

Um pouco da história
“Uma balsa desde pachorrenta o rio Tocantins, carregada de mercadorias para serem vendidas em Marabá. Confeccionada de talas de buriti - extremamente leves depois de secas - sua viagem leva semanas. A única forma de maneabilidade das balsas era uma pá de remo adaptada a uma longa vara, com a qual era mantida no “fio” da correnteza, isto é, onde ela era mais forte, evitando os remansos e águas paradas.

Pachorrentas e poéticas, as balsas deixavam-se levar pela correnteza do rio, elas contribuíram com destaque para o desenvolvimento da região. Foi, sem dúvida nenhuma, a mais segura de todas as embarcações primitivas usadas nos rios. Construídas do braço da palma do buritizeiro, que eram reunidos em feixes, e estes ajustados uns aos outros até formarem uma superfície plana, com tamanho que variava entre vinte e cinco a cinquenta metros lineares. Por cima, armavam uma cobertura de palha de piaçaba para abrigar a carga e a tripulação, sendo que esta se constituía de três a cinco homens.

A balsa era usada somente rio abaixo, à deriva da correnteza do rio. O leme se constituía de duas vogas (espécie de remo de cabo comprido), só usadas para manobras nas cachoeiras e para o acostamento.
Eram embarcações usadas somente no Tocantins, confeccionadas em Carolina, no estado do Maranhão, onde há abundância dessas palmeiras. Transportavam cereais, frutas, aves, porcos, cabra, carneiros, carne seca, toucinho, rapadura, doces de leite, de coco e de buriti.

Em Marabá terminava a viagem. Aqui as talas eram vendidas ou dadas, desmanchadas, de cujo material faziam-se cercas e paredes. Durante a época invernosa, o porto da cidade pelo Tocantins, ficava tomado delas. Cheias das mais variadas mercadorias, inclusive a famosa rede sertaneja, totalmente construída á mão, eram verdadeiros empórios flutuantes.”

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